Justiça para um grande artista.
Como simples testemunha do meu tempo, considero um absurdo que até hoje, final de 1989, um artista do valor e da importância de CELSO ANTÔNIO não tenha tido ainda o reconhecimento que merece. É sabido que a morte impõe um período de silêncio, como se entre a posteridade e o morto ilustre fosse necessário fazer uma reflexão para reavaliar o que significou de fato a sua contribuição para a cultura nacional.
Quem quer que tenha interesse pelas artes e pelas letras no Brasil sabe a importância de CELSO ANTÔNIO. Nem é preciso ter sido seu contemporâneo, ou ter acompanhado, mesmo à distância, o itinerário que o artista percorreu. Não lhe faltou sequer o sal da grande controvérsia, quando sua arte foi vítima da incompreensão e da burrice.
CELSO ANTÔNIO, tendo vivido e trabalhado num momento de renovação cultural em todas as frentes, foi um grande artista inovador. Com um temperamento discreto, alheio ao marketing das celebridades de 15 minutos, o grande artista teve ao seu lado as melhores inteligências e sensibilidades de seu tempo. Bastaria citar três grandes nomes, entre seus fervorosos admiradores: Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Rodrigo M. F. de Andrade.
Tudo que se fizer em favor de CELSO ANTÔNIO, a partir de agora, é justo e oportuno. Chega tarde, mas ainda chega a tempo de saldar uma dívida que o Brasil tem para com esse extraordinário artista, que conheci, admirei e defendi, quando foi vítima da agressiva estupidez dos que se trancam na rotina e no ar viciado do pior academicismo.
Otto Lara Resende
Rio de Janeiro, 20 de novembro de 1989
Loja virtual da Livraria Resistência Cultural Editora.